PS/2007 - VERIFICAÇÃO DE HABILIDADES E CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Artes cênicas

MUSICALIDADE, RITMO E MOVIMENTO (Atividade Coletiva)

Serão tocados dois trechos musicais em gênero distintos para que você perceba as sonoridades propostas (ritmo, melodia) e suas diferenças. Em seguida, inicia-se a avaliação, que será desenvolvida em duas partes:

OUÇA AQUI OS TRECHOS MUSICAIS REFERENTES A PROVA

1° parte - O mesmo trecho sonoro será executado pela segunda vez. Você deverá então realizar movimentos que estabeleçam um diálogo de seu corpo com o espaço e com os estímulos sonoros apresentados. Lembre-se de que o silêncio também é um som. Procure realizar movimentos que utilizem as várias possibilidades corporais no espaço determinado.
Duração da atividade: 2 minutos.

2º parte - Sem a música, você deverá desenvolver os mesmos movimentos, mantendo o ritmo e a melodia, traduzindo-a na forma cantada de seu primeiro nome. 
Duração da atividade: 5 minutos.
(Os examinadores poderão sugerir estímulos e andamentos durante a dinâmica da prova).

APRESENTAÇÃO CANTADA (atividade individual)

O candidato deverá cantar uma música do repertório do cancioneiro popular, sem acompanhamento instrumental.
Duração: 1 minuto. 

JOGOS TEATRAIS E IMPROVISAÇÃO (Atividade coletiva)
Devido à natureza da prova (improvisação) não será proporcionado tempo de preparação e/ou ensaio.
Duração: até 7 minutos.

  • A partir da situação proposta, o grupo terá até sete minutos para desenvolver a cena (improvisada).
  • Os examinadores poderão intervir durante a dinâmica da prova.

 

SITUAÇÕES PROPOSTAS

SITUAÇÃO 1

         Um casal entra em um restaurante. O homem e a mulher estão radiantes e aparentam estar em um processo inicial de namoro. Na mesa ao lado uma pessoa visivelmente mal humorada, se aborrece a cada manifestação amorosa dos namorados. O Casal aguarda alguns instantes, mas não há ninguém para atendê-los no local. Então, eles procuram um atendente. Finalmente aparece um cozinheiro que, com uma frigideira fumegante nas mãos, constrangido por estar fazendo um trabalho que não é o seu, assobia deselegantemente chamando o garçom. Este aparece visivelmente embriagado e inicia uma desastrada série de trapalhadas, que vai do puxar de cadeiras, provocando quedas, do entalar-se no gargalo da garrafa de vinho, e, por fim, acaba por entornar um prato de macarronada no casal indignado. 

SITUAÇÃO 2

         A família de dona Argemira e seu Orçalino Arruda, vinda de Mozarlândia para Goiânia depois que os sem-terra invadiram a sua improdutiva fazenda de quatrocentos alqueires e puseram mulher, marido e os filhos inúteis para correrem, viveram uma fase de muita necessidade aqui na capital, passando até privações básicas, morando de favor e contraindo dívidas impagáveis. Sem muita vocação para a labuta, depois de verem esgotado o crédito entre os conhecidos e crescer a fila de oficiais de justiça em sua porta, os filhos do casal tiveram uma idéia salvadora: fazer de dona Argemira, a “dona Vera baiana”, vidente, jogadora de búzios, de cartas e de tarô indiano, o que, com pouco tempo e alguns quilos de panfletos promocionais distribuídos na Praça do Ratinho, na Feira da Lua e no calçadão da Goiás, resultou numa freguesia invejável de maridos desconfiados, esposas vingativas, corações solitários, artistas frustrados e políticos gananciosos.
Tudo estava dando certo até que...

SITUAÇÃO 3

Uma aula. Um professor ministra a sua aula enquanto uma discussão e outros eventos paralelos acontecem. O orador explica um assunto, fazendo uso de gestos expansivos. Um membro da platéia ataca o orador, tentando impedi-lo de continuar sua aula. Alguém do grupo começa a fazer sons estranhos. Um quarto membro começa a fazer movimentos estranhos com a cabeça. O quinto elemento atravessa a sala de um lado para o outro e começa a abrir e fechar janelas e portas. Um dos membros do grupo fixa o olhar no colega e com, gestos, retira uma peça do vestuário, pedindo ao outro uma peça substituta. O jogo passa adiante e vai mudando de ritmo, indo de uma maior velocidade até a lentidão. Começam então a carregar uns aos outro no colo, primeiro dois a dois, e, posteriormente, por trios. Brincam de estátuas, como se estivessem em meio a uma exposição, num museu. Um a um todos saem de cena, emitindo sons criados individualmente. 

LEITURA DRAMÁTICA À PRIMEIRA VISTA (Atividade Individual - sorteio)
Leitura em voz alta, sem preparação prévia de um dos textos a seguir:

TEXTO I

ESTADO DE SÍTIO - Albert Camus

NADA -  (Debruçando-se sobre um marco e zombando ) Vejam! Eu, Nada, luz desta cidade, pela cultura  e pela sabedoria; bêbado, por desdém de todas as coisas e por nojo das honrarias; ridicularizado, pelos homens, por ter preservado a liberdade de desprezar; eu, Nada, faço questão de lhes fazer, após este fogo de artifício, uma advertência gratuita: estamos nisso - e, cada vez mais, vamos estar nisso. Mas reparem bem: já estávamos. Era preciso, porém, um bêbado, para o perceber. Onde estamos, então? Cabe a vós, homens da razão, adivinhá-lo. Quanto a mim, tenho opinião firmada, desde sempre, e estou fiel a meus princípios: a vida  vale a morte ; o homem é a madeira  da qual se fazem as fogueiras. Acreditai-me: os aborrecimentos vão chegar. Este cometa é um mau agouro. É um alerta.

TEXTO II

LIÇÕES  DE ANONIMATO  -   Hugo  Zorzetti

TIA SHIRLEI - (Um grito impaciente e histérico) Cala boca , escumungados! Ceis tão quereno me pô lôca, é? Se tão, já pusero! Disgreta! Diabo dos inferno ! Se oceis num pará com essa bagunça, eu intrego a merda desse  troço pra diretora e num vai tê tiatrim ninhum no dia das mães, não, tão me ouvino? Se oceis quisé apresentá pros pais doceis, oceis vão tê de trená, tão iscutano, capeta dos inferno? Tiatro é igual futebol: tem de trená! Trená pra num fazê feio. Tão ouvino, disgrama? A tia Shirlei num vai tá “nem aí” se lá no dia oceis errá e o povo jogá  tumate noceis, jogá pedra noceis, joga merda noceis! Eu num vô tá “nem aí”, ó! Eu ó! Tão ouvino? (Respira, olha ameaçadoramente ) Quem é que tá faltano trená ? ( Vai sondando a platéia, procurando alguém, Berra) Cassandrinha ! É ocê, Cassandrinha? Cassandrinha. Cê tá surda, diabo? Vem pra cá. Cassandrinha, cê acha que eu num tô te veno, minina idiota? Passa aqui. Anda logo que eu num tenho o dia inteiro, não, coisa torta! Vê se aprende dessa veiz , menina besta .Eu já tô perdeno a paciência com você. Se ocê num dé conta hoje eu vô pô a Rutinha no seu lugar e vô falá pra sua mãe que ocê é burra demais pra fazê tiatrim pra ela. Tá iscutano, trem discunjuntado!    Ocê faz o Chapuezim Vermei, num é ? Pois é, aí cê tem de falá igualzim  tá aí no papel que  a tia Augusta  escreveu  e fazê do jeito que a tia Shirlei te ensinô, assim, ó: (a professora, acentuando os mais terríveis clichês, representa na frente de uma cassandrinha abobalhada uma ridícula chapeuzinho vermelho) “Oh , seu lobo mau - num seja tão mauzim - num seja tão feioso - deixa de tanta gula - deixa de sê manhoso. Devolva a minha vovozinha - que ocê papo - e mandô pro barrigão. Minha vovozinha é bonitinha - e num pode mais corrê. Durmia que nem anjim - antes docê aparecê “. Aprendeu, Cassandrinha?

TEXTO III

BEIJO NO ASFALTO - Nelson Rodrigues

Arandir     (Numa alucinação) - Dália, faz o seguinte. Olha, o seguinte: diz a Selminha. (Violento) - Que em toda minha vida, a única coisa que se salva, é o beijo no asfalto. Pela primeira vez, na vida! Por um momento, eu me senti bom! (Furioso) - Eu me senti quase, nem sei! Escuta, escuta! Quando eu te vi no banheiro, eu não fui bom, entende? Desejei você. Naquele momento, você devia ser a irmã nua. E eu desejei. Saí logo, mas desejei a cunhada. Na Praça da Bandeira, não. Lá, eu fui bom. É lindo! É lindo, eles não entendem. Lindo beijar alguém que está morrendo! (Grita) - Eu não me arrependo! Eu não me arrependo!

TEXTO IV

QUERIDA MAMÃE – Maria Adelaide Amaral

RUTH (animada) A sua vó não gostava do que a segunda Guerra tinha feito com o mundo. Achava que o tempo devia ter parado em 1938 quando já havia rádio, automóvel, geladeira e banheiros funcionais. Tudo que se inventou depois, segundo ela, era estúpido ou supérfluo, inclusive televisão e supermercado. Ela sempre se recusou a ter televisão e só comprava onde era conhecida e chamada pelo nome. (sorrindo) Eu tinha uma grande admiração pela minha mãe, apesar dos maus bofes. Em 1952 ela irrompeu no consulado da Rússia e pediu para os funcionários lhe organizarem uma viagem: não para Leningrado, mas para São Petersburgo. “Cavalheiros, eu não quero conhecer a União Soviética. Eu quero conhecer a Grande Rússia, de Pedro e Catarina”.

TEXTO V

REI ÉDIPO – Sofocles

ÉDIPO – (...) Minhas filhas, onde é que estais? Vinde cá, aproximai-vos destas minhas mão, irmãs das vossas, que fizeram com que assim vejais os olhos outrora iluminados do pai que vos criou; ele, minhas filhas, sem nada ver ou saber, vosso pai se tornou no seio onde ele próprio foi gerado. Sobre vós ambas eu choro. Olhar-vos, já não posso. Antevejo o futuro de uma vida amarga, que vós sereis forçadas a viver junto dos homens. Que convívio frequentareis da vossa cidade, a que festa ireis, que não tenhais de correr, em lágrimas, para o palácio, em vez de assistirdes ao espetáculo? Quando chegar a tempo das vossas núpcias, quem será, quem será aquele que se vai expor, minhas ilhas, a tomar sobre si tais opróbrios como os que atingiram meus pais e são também motivo da vossa ruína? Haverá mal que esteja ausente? O vosso pai matou o próprio pai; fecundou a mãe por quem ele próprio foi gerado e vos recebeu como filhas da mesma mulher de quem nasceu. Tais opróbrios vos hão de apontar. E quem vos desposará então? Ninguém o fará, minhas filhas; tereis, certamente, de definhar, estéreis, na solidão.

TEXTO VI

TECELINA – Gláucia de Souza

         A avó da avó da Tecelina morava numa cidade fria-fria, dessas que de dia faz solão, mas, de noite, o frio é demais.
         Dona Gertrudes, que era o nome da avó da avó, sentia muito frio toda noite e era um BRRRRRRR tremendo. Ela batia queixo, tremia toda, nem agüentava.
         Até que, um dia, ela teve uma idéia: começou a tecer casacos. Pela manhã trabalhava: plantava a roça, fazia comida e, quando era hora, colhia algodão, tirava lã de ovelha... porque lá na cidade dela ainda tinha ovelha em quintal.
         De noite, Dona Gertrudes também trabalhava: tecia roupa de lã para o inverno, roupa de linha para o verão. Tecia casaco, abrigo, boné, cobertor...
         Trabalhava de dia e de noite. Assim foi fazendo roupa para ela e para o marido. Até que nasce a filha da Dona Gertrudes.
         A filha da Dona Gertrudes era bem Dona Gertrudes. Então, seu Marido disse “tem cara de Gertrudes”. Agora moravam na casa Dona Gertrudes, o marido e a Gertrudinha, que para evitar confusão, ficou sendo só Tudinha.
         [...]
         A Tudinha cresceu e virou Tudona, mas todo mundo continuo a chamar Tudinha, afinal ela era mesmo bem magra.
         Dona Gertrudes foi ficando mais velha e tecendo, até que a Tudinha casou. Antes de ela se casar, Dona Gertrudes teceu roupa, toalha, tapete, tudo para Tudinha. Bem que a moça já tinha aprendido a tecer. Queria fazer ela mesma o enxoval, mas Dona Gertrudes disse:
         - O que foi tecido é presente!

 TEXTO VII

TEOREMA -  Pier Paolo Pasolini

         O que conta é o que existe, e o que existe é o que aparece. A aparição é misteriosamente geométrica, apesar de irregular. Qualquer ponto está a uma distância exata de qualquer outro ponto é preciso medir aquela distância; e o trabalho é longo, porque os pontos são infinitos; exatamente cento e cinqüenta, por exemplo, são as janelas (com as persianas abaixadas ou semicerradas), das quais quarenta têm sacada. Apenas numa janela está exposto, pendurando como morto, um tapete vermelho.  Os cume das árvores – quase todas coníferas – que afloram dos jardinzinhos dos andares térreos são setenta e cinco. Os ângulos das casas, trinta, as paredes, vinte; três destas vinte paredes são de tijolos à mostra, numa tenra cor de nozes; sete são acinzentadas, de mármore ou falso mármore: seis são róseas, longínquas e, por isso, quase indecifráveis: quatro têm uma cor entre o lilás e o rosa, lívida, contra a qual sobressaem mais tristemente ainda os verdes escuros e natalinos dos pinheiros.  

TEXTO VIII

O AVARENTO – Moliére

VALÉRIO – Você sabe como eu tenho procedido e o que fiz para isso. Conhece a máscara de simpatia e de identidade de gênios que eu coloquei para agradar a seu pai e que personagem represento diante dele para conseguir sua amizade. Felizmente vou vencendo e cheguei à conclusão de que, para agradar aos homens, basta apenas que pareçamos iguais a eles, apoiando suas idéias, exaltando seus defeitos e aplaudindo tudo o que eles fazem. Os mais astuciosos são às vezes os mais cabotinos e perdem pela vaidade. Não há ridículo ou impertinência que não engulam, quando podemos disfarçar a pílula, dando-lhe o sabor de um elogio. A sinceridade sofre um pouco nessa situação em que me coloquei, mas quando temos necessidade de vencer, não devemos olhar os meios. E visto que não seria possível vencer de outra maneira, o crime é menos dos que elogiam do que dos que querem ser elogiados.